sábado, 2 de maio de 2009

Era uma vez...

Era uma vez, um homem, que sonhava em ter um vida melhor, e assim, constituir família. Ele era nordestino, vindo do Rio Grande do Norte, da cidadezinha chamada Umarizal, cidade esta castigada pela seca e alimentada pela esperança de um povo que acreditava em Deus. Bem, este homem saiu de sua cidade em busca de trabalho. Foi para a cidade da esperança chamada São Paulo, que absorvia os nordestinos trabalhadores, sonhadores, honestos e sobretudo corajosos, corajosos sim, pois deixavam família, casa, amigos, em busca de um futuro melhor, e sempre acreditavam poder voltar para suas casas com dinheiro suficiente para suprir as necessidades da família e abrir um negócio e assim, sobreviverem no lugar seco, mas alegre e cheio de esperança. Sim, alegre, porque o povo dali é um povo que sofre, mas que sabe rir, sabe se alegrar, com o que? Não sei, acho que com a criatividade que tem de fazer alegre o que é triste, como um poeta.


Pois bem, esse homem foi para a cidade dos sonhos: São Paulo, lá trabalhou como assistente de pedreiro, pedreiro, depois de tanto lutar, passou a trabalhar num clube onde os proprietários eram libaneses. Ali foi ficando, trabalhou como garçon, chegando até a ser tão querido pelos libaneses por causa da sua dedicação e honestidade que foi difícil para eles deixarem que este homem, depois de anos de trabalho ali, fosse embora para ganhar terrenos em um lugar que estava sendo aberto para se tornar uma vila: Vila Glória. Veio com o primo que estava em São Paula e já estava casado, mas este abandonou a família, ato que lhe custou muito durante toda sua vida. Este primo tocava violão e cantava muito bem. Este era alto, atraente, já o seu Osvaldo que vinha de sua vida de garçon, mas que conseguiu juntar uns bons trocados era baixo, mas igualmente bonito e atraente pela sua simpatia. Pois bem, seu Osvaldo estava trabalhando de vendedor ambulante, e com sua malinha vendia de tudo, mas o seu primo alto, José tinha aberto um bar e seu Osvaldo ficou de sócio. Seu José acabou comprando uma chácara na terceira linha e foi para lá vendendo sua parte no bar para o seu primo Osvaldo. Bem o tocador José, gostava de cantar uma tal música "A Chalana", e como os dois eram novatos aqui, e as pessoas ainda não tinham memorizado seus nomes, quando se relacionavam a um deles diziam: aquele da chalana. Passaram, então, a chamá-los de Zé Chalana o primo mais alto, tocador, e de Chalaninha ou seu Chalana o primo mais baixo, o nordestino sonhador. Quando se estabeleceu, e seu bar único, bem conhecido, resolveu que deveria visitar a família em Umarizal, e assim fez. Chegando lá foi aquela alegria dos pais e irmãos, que não o viam havia dez anos. Passou por lá uns dois meses, para matar bem a saudade, e nesse período se engraçou pela própria prima, Maria do Socorro que havia terminado um noivado recentemente. Nesses poucos dois meses, namorou e ficou noivo dela, e lhe prometeu casamento em dois anos, e disse ainda que não lhe escreveria, mas que voltaria nesse período para casarem-se. E como homem honesto que sempre foi, cumpriu a promessa. Não lhe escrevera nenhuma linha, mas completados os dois anos, voltou e casou-se com ela. Vieram os dois para o Mato Grosso (ainda era um só Estado naquela época, o que hoje tornou-se Mato Grosso do Sul). Dona Socorro veio, filha caçula de 9 filhos, acostumada a mordomias, mesmo naquele lugar difícil, mas lá morava em um sítio, e nele havia fartura, mesmo quando a seca castigava, pois nesse sítio tinha um córrego, que na seca quase secava. Ficou maravilhada com tanta água e árvores, porque aqui ainda tinha muitas matas naquela época. Passaram a morar em uma casa de madeira, pequena, e o bar era um pouco longe. Maria do Socorro, ficava os dias muito só, enquanto seu marido trabalhva no bar. Em 1964, grávida de 3 meses, ao estar na casa de uma vizinha que cozinhava um frango, ficou com vontade de comer, mas com vergonha de pedir, segurou a vontade e a noite sentiu-se mal, disse ao maridoi a vontade que estava de comer aquele frango. No outro dia o marido comprou um frango para que ela comesse, mas não foi a mesma coisa, e ela passou muito mal, indo a um "médico" que não devia ser formado em nada, e este deu-lhe um remédio, e ainda disse que não estava grávida, o que fez como que ela perdesse seu filhinho. Naquela época, não havia ônibus, tudo era muito difícil, nem tinha hospital por essas bandas. O Rio Dourados não tinha ponte, atravessavam de balsa. Passava-se muitos dias viajando para chegar em Dourados e estradas também eram muito ruins.

Maria do Socorro, por ser a caçulinha, não tinha muita experiência na cozinha, sabia bordar, costurar, fazer crochê, pintar em tecidos, e ainda tinha o apoio do marido para tais coisas, mas cozinhar, essa era uma experiência nova. Mas o marido, esse tinha experiência no assunto, cozinhava muito bem, pois sua vida em São Paulo e o bar lhe deram muita experiência em cozinha. Olha, até se daria bem na França como Chef, mas não teve essa sorte. Pois, sim, aprendeu em São Paulo as boas maneiras, embora como utilizar os talheres e os tipos de comida, isso ele e ela sabiam bem, pois no Rio Grande do Norte tiveram influência da educação francesa e sabia como se portar bem à mesa. Mas cozinhar, dona Socorro teve que aprender com o marido Osvaldo, o Chalaninha, 18 anos mais velho que ela, mas o amor de sua vida. E assim foi, aprendera a cozinhar com o marido. Este, levantava-se todos os dias as 4:30 ou 5:00 horas, e fazia o café e ainda levava para a amada esposa na cama. Olha só que romântico! Será que ainda há homens assim hoje? Homens que dão presentes que fazem a mulher feliz, que nãoe squecem as datas importantes, que sonham, que realizam sonhos, que vivem e fazem viver. Amoroso em todos os sentidos, sensível, forte, decidido. Mas, algo tinha que sair errado! O costume do bar,fez-lhe um bebedor por algum tempo, e isso saia do controle. Isso sim fazia Socorro infeliz, porque ele extrapolava, ficava muito bêbado às vezes. Isso fez mal a saúde do seu Osvaldo, que teve problemas de pressão alta. Bem, em 1965, Socorro engravida novamente e nasceu a primeira filha. Osvaldo, logo construiu uma casa nos findos do bar, para poder olhar o bebê sempre, pois além de esposo amoroso ainda era pai coruja. Mas a bebida, era um problema ainda. O que foi solucionado apenas uns 9 anos depois, quando passou a beber somente em festas, mas mesmo assim não conseguia ter um limite, acho que tornara-se muito sensível ao álcool, pois mesmo se bebesse pouco ficava muito embriagado. Isso, causava sério problema, pois sua pressão sempre se elevava

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