Eu morava em Natal, entre 1990 e 1991....por aí. Eu trabalhava na Bip Nordeste, fazia faculdade de Ciencias Econômicas e ainda para completar comecei a lecionar porque a grana estava curta. Bem, quando comecei a lecionar, o tal núcleo onde fui contratada disse que o pagamento começaria no próximo mês. Eu saia da bip nordeste na parte da tarde, pegava uma circular que demorava 40 minutos para chegar a essa escola tão afastada. Uma escola bastante carente, escola pública estadual. Gostei da experiência, e em pouco tempo ganhei a amizade daquelas crianças, e os via de vez em quando me imitando...rsrsrsr
Mas...passou-se um mês...e nada do meu pagamento. Fui ao núcleo e disseram que sairia no próximo mês no dia 12 e que viriam os dois meses juntos...e assim, foi...dois meses, três...quatro...e nada do meu pagamento aparecer, e o que eu ganhava na bip nordeste só dava pra pagar a faculdade, aí eu ficava somente com os tickts para andar de circular. Nisso, eu lecionava na "Conchinchina" no período da tarde, e ainda tinha que voltar para ir para a faculdade...claro que passava sem jantar, e como eu sou vegetariana, nem comia a merenda da escola porque sempre tinha algma carne no meio da comida....rsrssr...então fazia regime forçado. Lecionando na "Conchinchina", sem receber e sem comer....que legal né? Pagando pra lecionar matemática para sexta série....rsrsrs. às vezes dava um jeito de ir em casa, eu morava com minha tia Terezinha num bairro chamado Nova Descoberta, lado contrário ao que eu dava aula, e tbm contrário a faculdade. Mas às vezes eu ia até em casa, pelo menos tomar banho,....às vezes...r.srsrsrsr.
Eu tabém estudava piano na escola de música da Universidade Federal, nossa, senti muita falta disso. Um belo dia, estou saindo da bip nordeste, e nesse dia eu não ia lecionar, eu ia para casa, mas quando coloquei a mão no bolso da calça faltava dez centavos para completar o valor do ônibus. Nossa! Eu fiquei indignada, e comecei a chorar de raiva, de tristeza, e fui andando, ia a pé....longe....era longe....acho que iria dar uns 10 Km, eu estav no centro de Natal, e morava em Nova Descoberta. Nisso, eu chorava, andava e pensava, mas por que meu Deus? Eu sou tão honesta, trabalho tanto, e hoje não tive dinheiro pra comprar nem um lanche, e agora nem tenho o dinheiro todo do ônibus...o cobrador não vai querer me deixar ir (apesar que eu sempre ia naquele ônibus, ele já me conhecia), mas como eu estava indignada, nem pensei em tentar pedir para pagar os dez centavos depois, isso seria fácil, ele deixaria sim. Mas fui andando, e reclamando, chorando, chateada mesmo, nem via as pessoas passando. Já tinha andando uns 3 Km, quando eu estava passando por uma parada de ônibus e vi uma senhora com um bebê recém nascido no colo, e outro menino de 5 anos sentadinho ao seu lado. Ela estava com o bebê e chorando. Aquilo me chamou a atenção e eu parei, olhei para ela, fiquei com pena e perguntei: O que aconteceu dona? Ela respondeu: ah minha filha, estou desesperada, não sei o que fazer, estou doente, tive meu filho a pouco tempo, e preciso de leite, meu marido perdeu o emprego e estamos quase tendo que deixar a casa onde moramos. Minha nossa! Comecei a conversar com ela e perguntei se ela tinha ido na promoção social da prefeitura, era época de política...e ela disse que tinha ido, mas não deu certo. Eu deu uma força para ela e disse que ela precisava lutar e ira atrás novamente, só sair de lá quando conseguisse, afinal os filhos precisavam dela. Nesse momento, ela enxugou as lágrimas e disse: é mesmo minha filha, você tem razão, eu ficar chorando aqui não vai resolver nada, muita obrigada pela força que você me deu. Puxa! Aquilo era tudo o que eu estava precisando para agradecer a vida que eu tinha, afinal, eu ia chegar na casa da minha tia e ela não iria perder a casa, era do marido dela, e eu ia chegar lá e ter uma comida gostosa para eu comer. Do que afinal eu estava me lamentando esse tempo todo de caminhada? Precisava encontrar essa mulher, tão necessitada, não tinha nada do que eu tinha, mesmo que não me sobrasse nada no fim do mês e eu ainda estivesse lecionando de graça, porque meu pagamento não chegava. Mas eu ainda tinha a bip nordeste, e os passes de ônibus. Mas estes tinham acabado por isso que eu estava reclamando, mas no outro mês viriam outros e o meu pagamento para pagar a faculdade. Então, me despedi da mulher que se levantou para ir a luta, e resolvi deixar de bobagem e ir de ônibus e arriscar pedir ao cobrador para deixar eu pagar os dez centavos que faltavam, depois. Mas aconteceu um fato interessante, providência divina...o interessante e misterioso acontecimento foi que ao colocar a mão no bolso esquerdo (eu havia colocado no bolso direito e faltava dez centavos), ao colocar a mão no bolso esquerdo, pensando ser o que estava o dinheiro, notei a presença de uma moeda...tirei do bolso...era os dez centavos que estavam faltando!! Alguém consegue me explicar? Então, nem precisei pedir para o cobrador. Isso é o que eu chamo de providência divina...para mostrar que minhas reclamações não tinham fundamento, que eu enxergasse o sofrimento verdadeiro de outras pessoas. Aqui aprendi que Deus sempre está presente nas nossas vidas! Bem...quanto ao meu pagamento do governo pelas aulas, isto conto daqui a pouco...o bicho pegou, mas eu recebi!!! Rsrsrsrsrs
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